quinta-feira, 10 de abril de 2014

25 de abril será nosso verdadeiro "Dia D".

Dia 09 de abril aconteceu o chamado "Dia D" nas escolas púbicas do Estado de São Paulo. A proposta da Secretaria Estadual da Educação é que esta seja uma data na qual professoras(es), gestoras(es), alunas(os), funcionárias(os), pais e mães se reúnam a fim de realizaram autoavaliação apontando os pontos positivos de cada escola e traçar estratégias para áreas que precisem de maior atenção.  

Na escola onde trabalho participei do grupo de discussão com o tema "Fatores Externos que dificultam o trabalho do professor e a aprendizagem do aluno". O debate evidenciou algo que vimos observando e vivenciando há tempos. Existe um entendimento amplo de que a Educação Pública está no limiar da barbárie. Crianças e adolescentes estão nas escolas, "passam" por ela anos a fio, mas não aprendem. Avaliações diagnósticas, internas e externas, mostram que a a maioria das(os) estudantes não possuem proficiência leitora, escritora e matemática. Como se sabe, vários são os fatores que interferem no processo ensino aprendizagem e que servam de barreira para que este seja de qualidade. Por se tratar de um tema amplo e complexo, iremos nos ater ao tema proposto ao grupo de debates que participei, ou seja, apontar quais fatores externos inferferem de maneira negativa impedindo as aprendizagens ocorram satisfatoriamente. Evidentemente, mesmo se fazendo este recorte, continuaremos cercados de diversos fatores pertinentes, portanto, este texto não dará conta de abordar todos os aspectos, mas tão somente apontará algumas questões relevantes que apareceram durante a discussão.  

Impossível iniciar este debate por outra questão que não seja a da violência. As escolas encontram-se marcadas pela insegurança. Os índices de violência aumentam de maneira alarmante e paralelo a ela, as(os) trabalhadoras(es) em educação sentem-se de mãos e pés atados. Não sabemos, muitas vezes, o que fazer, nem temos, com quem contar. Portanto, é preciso urgentemente MUDAR, RENOVAR, TRANSFORMAR esta realidade que, infelizmente, não é um "mérito" da escola, mas da sociedade como um todo. O fato da comunidade escolar ter esta percepção, a da necessidade premente de mudança, é extremamente progressivo, no entanto, as sugestões apontadas para solucionar o problema são um tanto quanto equivocadas e cheias de contradições. Exigir, por exemplo, a presença da polícia na escola não me parece, nem de longe, uma solução, afinal, a PM, ou qualquer outra corporação do tipo, não é garantia de proteção. Não é segredo a ninguém que esta organização policial que aí está é a que mata, tortura, assassina e extermina a juventude negra e pobre das periferias. Casos emblemáticos como do pedreiro Amarildo que foi assassinado e teve seu corpo desaparecido pela ação da "policia pacificadora" do Rio de Janeiro; O jovem Douglas, estudante, negro, morador da periferia de São Paulo, brutalmente assassinado por esta mesma polícia que só lhe permitiu fazer uma única pergunta em seus últimos minutos de vida; "por que o senhor atirou em mim?" Cláudia, mulher, negra, trabalhadora doméstica foi arrastada como se fosse um pedaço de carne qualquer pela viatura da polícia; como dissemos anteriormente, esses são apenas alguns casos que se tornaram públicos. De acordo com a "Anistia Internacional", entre 2001 e 2005, as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo mataram 10 mil pessoas em situações descritas como "resistência à prisão seguida de morte". O "Observatório de violências policiais do Estado de São Paulo" compilou, entre 2006 e 2010, uma lista mensal de assassinatos por policiais que culminou na mais absurda cifra de 855 assassinatos cometidos pela política somente no ano de 2011. Há outras pesquisas que comprovam estes números, mas o que está em questão é saber se realmente queremos esta polícia dentro de nossas escolas. Estaríamos de fato mais seguras(os)?. Enquanto educadoras(es), tenho certeza que a preocupação de todas(os) é EDUCAR e não ELIMINAR, LIQUIDAR, CONDENAR OU EXTERMINAR quem já se encontra em situação de exclusão extrema. 

"Trazer os pais para dento da escola!" Sugestão recorrente não apenas do "Dia D", mas em reuniões pedagõgicas, porém temos de nos perguntar com franqueza: atrair os pais para dentro da escola a fim de que façam o que exatamente? Como se sabe, a organização escolar não está preparada para recebê-los, uma vez que sua estrutura é burocrática até o limite do provável. Via de regra, as direções até ouvem sugestões, no entanto, fazem apenas o que julgam ser necessário, desde que esteja perfeitamente de acordo com os mais rígidos e restritos limites de um Programa Educacional elaborado e gerido pelo governo burguês, que NÃO QUER UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA. "Gestão Democrática" é apenas um termo, pois na prática, equipes gestoras existem apenas para fazer cumprir as ordens e os programas do Estado, ou seja, não fazem nada além de cumprirem seu papel de "feitoria", chocote não lhes faltam, diga-se de passagem.

Outra questão recorrente em diversas intervenções demonstraram que, de modo quase consensual, compreendemos que a culpa de nossas mazelas sociais, todas elas e não apenas as questões educacionais, é do Estado. Todavia, há que se reconhecer que isso se dá não pelo fato de o Estado ser "paternalista", fala também recorrente, mas muito pelo contrário. Isso se dá porque o Estado NÃO NOS GARANTE ABSOLUTAMENTE NADA, especialmente para a juventude, pobre e negra da periferia e que está na escola pública. Para esta não chega cultura, esporte, lazer e segurança. A única coisa que nossa juventude tem acesso nas periferias são as drogas lícitas e ilícitas. Portanto, como dizer que o Estado é paternalista e que "dá tudo e não cobra nada"? Como assim? Dá tudo o que além de uma escola púbica sucateada, com salas super lotadas, sem espaços apropriados para estudo, esporte e pesquisa? O Estado "paternalista" precariza cada vez mais a categoria de professoras e professores, via de regra, esgotados pela dupla e tripla jornada, uma vez que é composta MAJORITARIAMENTE POR MULHERES. Podemos pensar ainda na questão dos materiais didáticos, oferecidos "gratuitamente", no entanto, mesmo estes não contemplam as reais necessidades de cada realidade. São materiais que atendem a um Currículo elaborado pelos "pensadores de gabinete" , verdadeiros "cães de guarda" do Estado Burguês. Pensadores que da escola pública da periferia quer mais é DISTÂNCIA. De mais a mais, garantir materiais didático/pedagógico é o mínimo que se pode esperar. O problema maior está em quem os elabora e a quais interesses respondem. 

Há que se pensar ainda em outras questões que não são alheias a Educação, mas que a influencia DIRETAMENTE. Estou falando, por exemplo, da Saúde Pública. Se este sistema de saúde é o que um "Estado paternalista" oferece, há que se reconhecer, com a mair absoluta franqueza, que  o "paternalismo" passa muito longe, na verdade léguas e léguas de distância. Há outras questões pertinentes como Saneamento Básico, Mobilidade Urbana e um longo etc, Todas estas necessidades básicas encontram-se no nível da mais extrema PRECARIEDADE. Neste sentido fico me perguntando, com a mais absoluta sinceridade: onde o Estado é paternalista? Os exemplos citados, e muitos outros que podemos levantar, comprovam o fato irrefutável de que o Estado não é paternalista, mas gerido pela classe dominante que só beneficia EFETIVAMENTE a ela mesma, pois o que chega para a juventude pobre, negra da periferia não atende nenhuma das necessidades mínimas previstas inclusive na Constituição que apresenta como direito de todo o cidadão e DEVER DO ESTADO "acesso à justiça, a alimentação adequada, a comunidade social, a habitação, a informação, ao cuidados do idoso, aos direitos sexuais e reprodutivos, a EDUCAÇÃO pautada no enfrentamento das várias formas de discriminação, a liberdade de expressão, a saúde, a previdência e assistência social, a segurança pública e ao sistema prisional". 

Neste sentido (repito) penso que as(os) camaradas estão certas(os) quando reconhecem que o Estado é o maior culpado de TODAS AS NOSSAS MAZELAS. Portanto, não será por meio deste Estado que virão as soluções que colocarão um ponto final em nosso sofrimento cotidiano, afinal, o Estado Burguês NÃO PODE, NEM QUER qualidade de vida para o conjunto da população explorada e oprimida. O que nos resta então, camaradas? A resposta já nos foi dada: Somente a destruição deste Estado e a construção de um Estado gerido pelos explorados e oprimidos contra a minoria exploradora e opressora nos garantirá vida digna, saudável e abundante. Não alimentemos nenhuma ilusão de que por meio de nosso voto conseguiremos mudar o caráter burguês do Estado. Exemplos de políticos honestos e bem intencionados que se perderam no lamaçal da corrupção, própria do Estado burguês, não nos faltam. Afirmar isso, contudo, não invalida a necessidade de elegermos tribunos da classe, sabendo que o parlamento deve ser utilizado como apoio as lutas concretas da classe trabalhadora, somente sob esta perspectiva a eleição de representantes de nossa classe ganha significado.

Sonho? Ilusão? Não camaradas! Sonho e ilusão é acreditar que por dentro desse estado burguês nós, trabalhadoras e trabalhadores conseguiremos algum dia resolver os problemas que afligem nossa classe. De mais a mais, a História já provou que as maiores conquistas da humanidade se deram nos Estados Operários. Penso que ao reconhecermos que do jeito que esta não pode ser é o primeiro e mais importante passo, mas é preciso avançar e para isso, precisamos retomar a confiança em nossas próprias forças. Somos a maioria e somos nós quem produzimos TODAS AS RIQUEZAS. Temos portanto, a tarefa premente de unir a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos para derrotar este Estado para que possamos de fato ter ACESSO ÀQUILO QUE PRODUZIMOS. Mas essa luta deve ser organizada por meio dos instrumentos de luta de nossa classe, isto a História também o demonstrou. Neste sentido, os sindicatos são parte dessas ferramentas, não a única nem a melhor, mas é uma importante ferramenta de luta. Derrotar as direções traidoras que se encontram nestes instrumentos ´de luta, também é tarefa colocada na atualidade. Portanto, camaradas, Dia 25 de abril será NOSSO DIA D - Assembleia Estadual no Vão Livre do MASP -SÓ A LUTA MUDA A VIDA!!!!! Grande abraço a todas(os) minhas (meus) companheiras(os) de trabalho!

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